Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! E eu vos direi no entanto
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
(E conversamos toda a noite..).
Miguel Torga, in A Criação do Mundo – O Quarto Dia
Poema dedicado aos alunos do 7º A e B que, pacientemente, me ouviram pregar sobre Pedro e “A Estrela”.
Perdeste o senso! E eu vos direi no entanto
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
(E conversamos toda a noite..).
Miguel Torga, in A Criação do Mundo – O Quarto Dia
Poema dedicado aos alunos do 7º A e B que, pacientemente, me ouviram pregar sobre Pedro e “A Estrela”.
- Mais para cima! Naaão!, prá direita!!!!!
E eu, empoleirado numa cadeira que me dava vertigens – sempre fui pouco dado a alturas, mesmo às mais diminutas! - de costas voltadas e nariz colado na parede, com os braços dormentes a pedirem piedade, continuava a seguir as indicações da professora Fernanda:
- Já está? – balbuciei, quase num tom de quem está para desfalecer.
- Ó Gilberto, agora deixaste descair demais. Sobe, sobe... assim, aí mesmo! Aí é que é! Ai essa tua falta de jeito! Francamente! Vá, não te mexas agora. Nem penses em baixar os braços!
Com a mesma postura de um assaltante apanhado em flagrante pela polícia, esperei que a professora Fernanda, numa rapidez demorada, sentenciasse com um pin o último cartaz, crucificando-o em definitivo, qual soldado romano.
- Olha, está ali um trabalho com a vida e obra de Miguel Torga; adoro Torga ! – revelou a Fernanda.
- Curioso, – disse eu - também é um dos meus poetas preferidos! Estou surpreendido que também gostes!
- Pois fica sabendo que aprecio muito a poesia de Miguel Torga. Tem palavras de grande beleza! Ficam-me na alma as frases simples e intensas que tem sobre a terra e o sentido que procura para a vida. Parece que faz parte de todas as coisas, entrando nelas. Mas também gosto do Diário e da Criação do Mundo – respondeu a minha colega. E sem que eu tivesse tempo para intervir, a minha colega fez questão de deixar claro que aprovava totalmente que um dos alunos se tivesse lembrado do poeta transmontano. Que Torga andava meio esquecido e a sua escrita mal aplaudida, lá isso andava!!! Eu também estava perfeitamente de acordo! Na verdade, a Literatura não deveria ser vista como uma mera passagem de modelos.
- Pois, as modas também chegam à literatura. Algumas pessoas, às vezes, quando pegam em alguma coisa para ler, procuram o “chique” e o que está na berra. Só porque fica bem andar a ler o autor X ou Y. – lamentei.
- Olha lá, tu é que podias dar Miguel Torga na unidade do texto poético! – atirou, sem hesitar, a Fernanda.
- Boa, a poesia vai ser a matéria que se segue; talvez peça aos miúdos que declamem uns poemas dele! – disse eu, já a tentar fermentar ideias.
- E podíamos...
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Mas nem tudo se perdeu: desta vez não houve correrias, barulhos ou voragem. Nem mesmo leites achocolatados interrompidos, ou bolos deliciosos a serem mastigados, a caminho do seu destino. Pelo contrário, dirigimo-nos os dois calmamente para as salas, certamente a pensar que Miguel Torga, desta vez, não ficaria só na exposição dos cartazes de autores do sétimo A.
- Até logo, Gil!
- Xauzinho, Fernanda. Boa aula!
Professor Gilberto Rocha